quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Dom Cappio testemunha Cristo na luta pelo São Francisco

Pelo regional NE III
Carta aberta ao Caríssimo irmão Dom Cappio

DD. Bispo da Barra. Ba
Jesus, voluntariamente, aceitou morrer na cruz porque sabia que, deste seu gesto de entrega a Deus, traria vida plena para toda a humanidade. Também V. Exa. tendo Jesus como modelo de amor ao próximo, iluminado pela fé, aceita fazer este jejum prolongado, rogando a Deus que impulsione o povo e as autoridades de nossa pátria para que assumam uma decisão concreta visando a revitalização do Rio São Francisco.
Você, irmão Bispo, como o maior perito (ou um dos maiores) em Rio São Francisco, tem autoridade moral para exigir esta revitalização.
Sabe-se que do seu barraco, montado às margens deste rio, durante décadas, você aprendeu a ver e a ouvir o pulsar de suas águas. Desta sua convivência diuturna, você percebeu logo que o velho Chico estava sendo ameaçado por um processo lento e progressivo de morte. Embora a causa deste processo fosse óbvia, você quis conhecê-la, pessoalmente. Por isto mesmo empreendeu aquela histórica caminhada, partindo, a pé, de suas nascentes até o seu encontro com o mar. Você viu, sentiu, rezou e quase chorou ao ver que toneladas de areia, por falta da mata ciliar, vão sendo carreadas para o leito do rio. Você viu, sentiu, rezou e quase chorou constatando que suas margens vão se alargando e o seu leito se elevando, deixando entrever que este dom de Deus para o Nordeste, vai, possivelmente, tornar-se um rio temporário, deixando de correr, exatamente durante as secas prolongadas, no tempo em que o povo mais precisa de suas águas.
O velho Chico pode ser comparado àquela mãe de milhares de filhos e que a todos deve sustentar, através da doação do seu próprio sangue. Acontece, porém, que esta mãe, atingida por uma grave doença, no começo imperceptível, vai ficando anêmica e, por isto mesmo, chegará o momento em que não terá mais condições de doar seu sangue. Um dos filhos, porém, o mais inteligente, aquele que se deixa mover unicamente pelo amor, percebendo a possibilidade de uma tragédia, promove um movimento visando a sua cura e a sua reabilitação. A maioria dos outros filhos, porém, insensíveis diante da ameaçada calamidade, movidos unicamente por interesses pessoais, não querem perceber a doença da própria mãe, mas, pelo contrário, exigem que ela continue doando sangue não só para si próprios, mas para outros que se tornarão filhos adotivos. As conseqüências são obvias: a mãe vai morrer e todos os filhos ficarão sem receber o sangue da vida.
O filho inteligente, aquele que se move unicamente pelo amor, continua lutando, denunciando, clareando, e chega a lançar mão de um meio heróico. Sujeita-se a um prolongado jejum, não para atrair a atenção sobre si mesmo, mas como uma oração que tocará o coração de Deus. E Deus que é Pai criará condições para que os outros deixem de ser turrões e egoístas e consintam que a mãe passe por um tratamento adequado afim de se reabilitar e se sentir forte para continuar sustentando os milhares de filhos e outros que se tornarão adotivos.
Caro irmão Dom Cappio, soube que houve pessoas importantes que caçoaram de sua heróica e sincera atitude. Sei que você já as perdoou. Una seus sofrimentos aos de Cristo. ELE é o seu modelo de vida. Jesus também, no seu julgamento, foi caçoado por Herodes. (Luc. 23, 11)
Para você o meu abraço e a certeza de minhas orações.Em Jesus e Maria

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